História
UM POUCO DA HISTÓRIA DA ILHA
Paquetá aparece no mapa em 1555, quando André Thevet – cartógrafo da expedição de Villegaignon – registra a ilha com o nome usado pelos índios da região. Em 1565, a ilha é dividida em duas sesmarias. Na parte norte, Inácio de Bulhões instala a Fazenda São Roque, que passa a fornecer hortifrutigranjeiros para toda a cidade e arredores. Por causa dos pastos, esta metade da ilha fica conhecida como Campo.
Na parte sul, doada a Fernão Valdez, desenvolve-se uma forte indústria caieira que, durante quase 300 anos, fornece cal em larga escala para o setor de construção da cidade do Rio de Janeiro. Por conta do ancoradouro das barcas, a outra metade da ilha passa a ser chamada de Ponte.
A história contada nos nomes das ruas
A partir de 1808, a chegada de Dom João VI ao Rio de Janeiro acaba mexendo com os destinos de Paquetá. Uma visita acidental, causada por uma tempestade que empurra a galeota do Rei até uma das praias da ilha, faz com que Dom João passe a vir com frequência passear no lugar que o salvou do naufrágio.
As visitas do imperador à Paquetá deixam rastros e rebatizam logradouros. É o caso da antiga rua dos Muros – que passa a se chamar Príncipe Regente –, e também da casa onde Dom João se hospedava, renomeada de Solar Del Rey. Além de ganhar do Rei o epíteto de Ilha dos Amores, é por obra de um decreto de Dom João VI que Paquetá deixa de ser freguesia de Magé e passa a pertencer ao município da Corte.
O abolicionista José Bonifácio é outra figura histórica que fixou seu nome na ilha, tendo vivido dois períodos relevantes de sua vida em Paquetá. O primeiro deles, voluntário, foi logo após sua volta do exílio. No segundo, é preso em sua própria casa, onde passa os últimos anos de vida vigiado por escolta armada. A rua, que ganhou o apelido de Praia da Guarda, hoje leva oficialmente seu nome. Já sua casa passou a abrigar o Museu de Comunicação e Costumes, ponto turístico da ilha, que guarda um pouco da história do Patriarca da Independência.
A Ilha na atualidade
Paquetá é o único bairro-ilha do município do Rio de Janeiro. Com área de 1,2 km² e perímetro de 8 Km, a ilha tem 40 ruas, 12 praças, 2 parques e 11 praias. Está localizada no fundo da Baía da Guanabara, a 18km da Praça XV, no Centro do Rio, e seu acesso é realizado exclusivamente pelo mar. As barcas de passageiros são o único meio de transporte até o continente, e uma balsa de carga faz a travessia de caminhões de abastecimento e serviços essenciais.
Habitada por cerca de 4.500 moradores, estima-se que pelo menos a metade dos domicílios existentes seja de veranistas que visitam Paquetá regularmente. Com um mercado de trabalho restrito aos serviços básicos e às atividades turísticas, parte dos ilhéus trabalha no continente.
A ilha foi um dos primeiros casos de tombamento histórico, no Brasil, em 1986. Mas somente em 1999 Paquetá passou a ter suas particularidades culturais e históricas reconhecidas e protegidas, quando foi transformada em Área de Preservação do Ambiente Cultural (APAC). Com ruas de saibro, a circulação de veículos motorizados é restrita aos serviços básicos. O transporte na ilha é feito apenas por bicicletas, ecotaxis (bicicletas elétricas com dois lugares de passageiro) e, desde 2016, por uma frota de 17 carrinhos elétricos concessionados pela prefeitura em substituição às charretes.
Vocação cultural e artística
Desde o século XIX, quando eram promovidos recitais na sala de concertos que existia na sede da Fazenda de São Roque, a ilha continua sendo cenário de grandes encontros e lugar de inspiração para a criação artística e literária. É imensa a lista de pintores, músicos e escritores que, de alguma maneira, estiveram ligados à Paquetá, seja como moradores ou como frequentadores assíduos, apaixonados pelo lugar.
Nas seções seguintes, você encontrará parte dos textos produzidos especialmente para a Exposição Permanente da Casa de Artes Paquetá, em 2011. A exposição tem curadoria de José Lavrador Kevorkian, com pesquisa e textos de Conceição Campos e Programação Visual de Júlio Pereira.
Clique nas seções abaixo e conheça um pouco mais sobre a rica história da ilha de Paquetá e de alguns de seus personagens ilustres.
Paquetá: muitas pacas ou muitas conchas?
Embora os europeus tivessem aportado no Rio de Janeiro em 1502, Paquetá só apareceria num mapa em 1555, ao ser percebida durante a expedição do francês Villegaignon. Foi registrada pelo cartógrafo André Thevet com o mesmo nome usado pelos índios da região: Pacquetá.
Entre outras ilhas, tendes aquela que eles chamam Pacquetá, assim chamada do nome de certo animal (…) do tamanho de uma lebre comum, do qual existe em abundância e de que é provida mais do que todas as outras ilhas (…)
(André Thevet, 1555)
O que André Thevet ainda não imaginava é que sua descrição (ou terá sido interpretação?) geraria, quatro séculos depois, uma acirrada polêmica etimológico-ambiental que, sem resposta definitiva, já se incorporou às histórias da ilha:
Paca é bicho que, como sabem os caçadores, vive na imediata proximidade de águas correntes. Nem há memória de que jamais tivesse sido vista paca na Ilha, onde nunca existiram riachos ou fontes naturais. O único mamífero encontrado em Paquetá em estado silvestre é o vulgaríssimo gambá, que se desaltera com a água das chuvas retida no verticilo dos gravatás ou em poças efêmeras. Mais plausível e aceitável é o significado de “lugar das conchas” ou “muitas conchas”, aventado por outros estudiosos dos idiomas indígenas. – Vivaldo Coaracy, 1965
As Sesmarias: Campo X Ponte
No mesmo ano da fundação da cidade, a ilha de Paquetá é dividida em duas sesmarias que serão doadas por Estácio de Sá a dois de seus melhores capitães: Inácio de Bulhões e Fernão Valdez. Em 1565, Bulhões ocupa toda a fração norte da ilha. No ano seguinte, Valdez ocupa a fração sul. Além de premiá-los pelos bons serviços na luta contra os franceses, a doação promoveria um estratégico e necessário povoamento do território.
Desde o começo desse povoamento, cada parte da ilha assumiu sua própria identidade – e até uma certa rivalidade – que resistiu à passagem dos séculos. Por conta dos pastos extensos da fazenda ali instalada, o lado norte ficou sendo chamado de Campo. Por longo tempo, produtos da Fazenda São Roque fizeram da ilha um polo abastecedor de hortifrutigranjeiros para o Rio de Janeiro e arredores. Foi também ali que se ergueu, em 1697, a primeira capela da ilha, batizada com o nome do mesmo santo. Como a Fazenda São Roque só começou a ser desmembrada a partir do século XIX, foram preservados no Campo os maiores terrenos e chácaras de Paquetá.
Já no lado sul – chamado de Ponte por conta do ancoradouro das barcas –, o parcelamento de terras começou mais cedo, motivado sobretudo pela indústria caieira. Além da pesca, da extração de pedras e da construção naval, houve nesse lado da ilha uma grande produção de cal que, misturado ao óleo de baleia, constituía-se num forte cimento usado na época. A abundância de conchas na ilha (assim como a madeira retirada dos seus manguezais para alimentar os fornos das caieiras) fez com que Paquetá, por quase 300 anos, fornecesse cal em larga escala para a construção da cidade do Rio de Janeiro.
Dom João e a Ilha dos Amores
O processo de desenvolvimento do Rio de Janeiro (e, por consequência, de Paquetá) se acelera especialmente a partir de 1808, com a chegada de Dom João VI. Distante dos conflitos europeus, ele usa seu tempo livre visitando fazendas e mosteiros. Em passeio de galeota rumo a Santana de Macacu, Dom João é surpreendido por forte tempestade e acaba aportando numa praia da ilha de Paquetá. Dessa visita acidental nasce uma relação de mútua simpatia e o rei passa a incluir o lugar que o salvou do naufrágio entre seus destinos prediletos.
Suas visitas à ilha deixaram marcas na paisagem, nas lendas e na história do lugar. A rua do solar de Dom Francisco Gonçalves (assim como o próprio solar) mudam de nome depois de hospedarem Sua Alteza. A antiga rua dos Muros passa a chamar-se Príncipe Regente e o casarão, Solar Del Rey. Também é história corrente que a água do poço de São Roque, supostamente milagrosa, teria curado a perna real de uma grave infecção causada por nefasto carrapato. Atribui-se ainda a Dom João a autoria do epíteto de Ilha dos Amores. Mas fato mesmo é que a ocupação e a autonomia da ilha adensaram-se ancoradas na figura do rei. Antes freguesia de Magé, Paquetá passa a pertencer ao município da Corte por decreto de Dom João VI.
José Bonifácio e a Praia da Guarda
Naturalista e geólogo reconhecido na Europa, principal articulador do nosso processo de independência, o abolicionista José Bonifácio de Andrada e Silva passou períodos relevantes de sua vida na ilha de Paquetá. Um deles, voluntário, após sua volta do exílio, depois de ter sido preso e expulso do país por conta de intrigas políticas. Nesse momento, ele não só se reconcilia com Dom Pedro I como aceita o seu apelo para que seja tutor dos seus filhos no momento da abdicação do trono.
Mas o Patriarca da Independência não consegue cumprir a função de tutor por muito tempo. Perseguido por defender o fim da escravidão e do latifúndio, é suspenso do cargo por decreto em 1833. Por julgar tal decisão ilegal, ele resiste e recebe ordem de prisão. Embarcado em escaler da Armada, é preso em menagem – prisão fora do cárcere – dentro de sua própria casa, na ilha de Paquetá.
Aos 70 anos, sequer responde ao processo de conspiração movido contra ele. Aproveita os quatro anos finais de sua vida recluso, entre livros e minerais, sendo removido já bem doente para Niterói, onde morre em 1838. Dono de poucos bens, a biblioteca que deixou contava com mais seis mil volumes. A rua de sua casa-cárcere passou a ser chamada de Praia da Guarda, em alusão à escolta ali montada, e hoje leva seu nome: Praia José Bonifácio.
A Revolta da Armada
Em 1893, a Revolta da Armada – liderada por um grupo de altos oficiais da Marinha – foi duramente reprimida pelo governo de Floriano Peixoto. Os revoltosos – que exigiam a convocação de eleições após a renúncia do presidente Deodoro da Fonseca – ficaram ancorados na Baía e passaram a usar a ilha de Paquetá como base de apoio para abastecimento de víveres e recolhimento de soldados feridos.
Com esse intuito, um hospital de sangue foi instalado na Chácara dos Coqueiros e os corpos mutilados no confronto foram amontoados no chão da Capela São Roque, assim transformada em necrotério. Embora a população tenha sido obrigada a colaborar com os rebeldes da Armada, não houve qualquer registro de violência da parte deles contra os moradores da ilha.
A fase verdadeiramente sofrida para os paquetaenses começaria depois de contida a Revolta, em março de 1894, quando um destacamento militar comandado pelo truculento Capitão Moreira César se instalou aqui para punir os pretensos colaboradores. Em mais de seis meses de terror e humilhações, moradores julgados culpados desapareceriam, provavelmente enviados para a Ilha do Boqueirão, onde os fuzilamentos dessa época sombria foram praticados.
Festas Tradicionais
Festa de São Roque em Paquetá
A origem da festa de São Roque em Paquetá remonta ao ano de 1698, quando a capelinha original foi construída. O que, inicialmente, era uma comemoração dos trabalhadores locais foi ganhando popularidade a partir da visita de Dom João IV – devoto daquele santo – e, mais tarde, do imperador Pedro II que se hospedava no Palacete Alambari, bem próximo ao arraial.
Comemorada no dia 16 de agosto, a festa de São Roque em Paquetá foi se transformando, durante todo o século XIX, num evento relevante não só para ilha como para a cidade do Rio de Janeiro. Vindos de todo lado em canoas, botes e barcos enfeitados, milhares de romeiros traziam, além da fé no santo, sanfonas, flautas, violões e muita disposição para se divertir. No arraial cheio de barracas e bandeirinhas, músicos e cantores populares subiam ao coreto para executar choros, modinhas e lundus. O espaço da igreja era pouco para acolher os fiéis que queriam assistir à missa cantada. Com a chegada do transporte regular para a ilha, a afluência de romeiros cresceu ainda mais, chegando a registrar-se tumultos nas barcas superlotadas.
Do século XX até hoje, embora os costumes tenham mudado – e, junto com eles, as feições da festa –, o segundo final de semana de agosto continua sendo momento de grande visitação à ilha de Paquetá. Elos de ligação entre passado e presente, a Capela e o Coreto mantêm sua forma original, assim como continua inalterada a cerimônia da bênção aos cachorros e a outros animais, todos protegidos de São Roque.
Festa de São Pedro
Em Paquetá, a tradição da Festa de São Pedro é mantida, sobretudo, pelos moradores da Colônia de Pescadores, situada próxima ao Parque Darke de Matos, na extremidade sul da ilha. Quando o terreno que mais tarde viria a ser o Parque foi adquirido por Bhering de Matos, os pescadores que moravam naquele canto de praia receberam do novo proprietário um outro terreno situado na Praia José Bonifácio. Ali estabeleceu-se a sede da Colônia dos Pescadores, onde, além dos vários lotes para moradias, foram construídos uma capela e um galpão para abrigar pequenos barcos e material de pesca.
Embora a maioria dos moradores da Colônia hoje já não vivam mais da pesca, os descendentes de pescadores continuam realizando a festa em homenagem ao padroeiro dos pescadores. No dia 29 de junho, após o toque da alvorada, a queima de fogos declara aberta a comemoração. Depois da missa na Capelinha, os fiéis saem da Colônia carregando uma pequena canoa com a imagem do santo, que segue numa bonita procissão de barcos contornando toda a orla da ilha. Em sua parte profana, a Festa de São Pedro dura três dias, enchendo a rua à beira-mar com barraquinhas e brincadeiras típicas das quermesses juninas.
A Moreninha, o escritor e a Ilha
A Moreninha, o escritor e a Ilha
O mais célebre livro de Joaquim Manoel de Macedo entrelaçou para sempre os nomes Paquetá e Moreninha – de tal modo que pensar na ilha é inevitavelmente lembrar da moça do romance que virou filme e novela.
O dado surpreendente, no entanto, reside no fato de que o nome de Paquetá jamais é pronunciado em nenhuma das páginas do romance A Moreninha. Ao mesmo tempo em que o autor descreve minuciosamente cada paisagem e os recantos do lugar, abusa do recurso das reticências para manter em segredo o cenário principal da história. Nesse jogo de mostra-e-esconde, privilegia aquele leitor que, já sendo amante da ilha, é capaz de reconhecê-la pelo caminho da memória e do afeto.
“E enquanto por uma bela avenida, orlada de coqueiros, se dirigiam à elegante casa, o curioso estudante recém-chegado examinava o lindo quadro que a seus olhos tinha. A Ilha de …. é tão pitoresca quanto pequena.” (Trecho do livro A Moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo)
O enredo de A Moreninha comporta todos os ingredientes de um bom folhetim: pequenas intrigas de amor entre jovens que se apaixonam, se divertem e sofrem juntos, rumo a um final feliz. Prova da eficácia da trama é que o livro, escrito por Joaquim Manoel de Macedo em 1844, sofreu diversas adaptações no século seguinte para cinema, teatro e televisão, assumindo o formato popular das telenovelas, com cenas filmadas na ilha de Paquetá.
Na época do Brasil Império, no entanto, o romance surpreendeu a cena literária com um tipo de prosa que ainda não se fazia por aqui. Bem ao gosto popular, o escritor aliava a linguagem coloquial da época a um senso agudo de observação dos usos e costumes da sociedade carioca do século XIX.
Alguns estudiosos de sua vida e obra encontram indícios autobiográficos na história, sobretudo pelas características do casal protagonista. Augusto seria o alter-ego de Macedo, e Carolina, a personagem-título, uma clara alusão ao temperamento forte de Maria Catarina de Abreu Sodré, esposa do escritor. Diz-se também que o romance teria sido escrito durante discreta hospedagem do autor numa pensão de Paquetá, então situada na rua Padre Juvenal.
Joaquim Manoel de Macedo
Nascido em 1820 no estado do Rio de Janeiro, Joaquim Manoel de Macedo forma-se médico em 1844, no mesmo ano em que lança seu primeiro livro, A Moreninha, considerado o primeiro romance urbano brasileiro.
Tendo sido o escritor mais lido durante o final da década de 1840 e início da de 1850, segue escrevendo poesia, crônicas, contos, peças e muitos outros romances. Um dos principais responsáveis pelo início da dramaturgia brasileira, suas comédias são importantes documentos dos costumes da sociedade carioca da época. Ainda assim, nada do que escreveu se comparou ao enorme sucesso alcançado por seu primeiro romance, que lhe rendeu fama e fortuna imediatas.
Jornalista, professor e sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Macedo foi eleito patrono da cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras. Sofrendo de problemas mentais na última década de sua vida, morreu perto de completar 62 anos de idade.
Anacleto de Medeiros
Nascido e falecido na Ilha de Paquetá (1866 – 1907), Anacleto perseguiu a música desde muito jovem. Filho de escrava liberta, começou na música tocando flautim da Banda do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Aos 18 anos, quando foi trabalhar na tipografia da Imprensa Nacional, já dominava quase todos os instrumentos de sopro, com predileção pelo saxofone.
Sua habilidade para organizar bandas e conjuntos musicais se manifestou cedo também, contribuindo muito para a fixação dessa formação no Brasil. Entre os operários da tipografia, fundou o Clube Musical Gutemberg. Em 1886, já músico formado pelo Imperial Conservatório de Música, fundou a Sociedade Recreio Musical Paquetaense e mais tarde a Banda do Corpo de Bombeiros. Sob a regência de seu fundador, esta banda tornou-se célebre, chegando a gravar alguns dos primeiros discos produzidos no Brasil, nos primórdios do século XX.
Aos poucos foi criando fama como compositor de polcas, schotisch, dobrados, marchas e valsas, e suas peças passaram a ser executadas em bandas de todo o país. Catulo da Paixão Cearense musicou algumas de suas músicas, como o famoso schotisch Iara, editado em 1912 com o nome Rasga Coração. Outras composições que ficaram conhecidas foram Santinha, Três Estrelinhas e Não Me Olhes Assim. Anacleto viveu intensamente a agitação do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX. Seu trabalho como regente, compositor, arranjador e instrumentista definiu um novo estilo dentro do choro, influenciando Villa-Lobos, Pixinguinha, Radamés Gnatalli e toda uma geração de chorões.
Pedro Bruno
Filho de italianos radicados em Paquetá, Pedro Bruno nasce em 1888 na Chácara da Nação. Ainda bem menino, faz amizade com o pintor Castagneto que, na época, se dedicava a retratar as paisagens da ilha. Despertando para o ofício, o garoto se oferece para transportar cavalete e pincéis, e assim passa horas a observar o trabalho do mestre de quem mais tarde se tornaria discípulo.
Antes disso, porém, a música o carregaria para longe das tintas. Com apenas 14 anos, o rapazinho Pedro Bruno vai para a Itália, de onde volta tempos depois, já diplomado em canto lírico. Barítono talentoso, chega a lecionar e viajar em turnê pelo Brasil. Mas a atração pela pintura logo voltaria com força total, atropelando a promissora carreira de cantor.
Com pouco mais de 20 anos (e de volta a Paquetá), Pedro Bruno passa a retratar a ilha incansavelmente, como aprendera com Castagnetto. Em 1918 entra pra Escola de Belas Artes, logo conquistando perfeito domínio técnico e o respeito da crítica especializada. Pátria, sua tela mais conhecida, recebe prêmios. A imagem de um grupo de mulheres costurando a bandeira nacional toca o coração do público brasileiro.
Cada vez mais ligado às coisas do seu país e de sua ilha, Pedro Bruno assume em 1933 o cargo de Oficial Administrativo de Paquetá – uma espécie de zelador do lugar. Com intenção de valorizar e preservar o patrimônio e a cultural locais, passa a produzir e instalar bustos, hermas, placas e marcos em vários pontos da ilha. Despertado em sua vocação de paisagista, também dirige a reforma do Cemitério de Santo Antônio, transformando-o em ponto turístico e erguendo, no terreno anexo, o surpreendente Cemitério dos Pássaros.
Pedro Bruno morre de edema pulmonar em 2 de fevereiro de 1949 e é sepultado na ilha onde nasceu. Sua obra está espalhada em museus do Brasil e do exterior. Na pequena capela de Paquetá encontra-se, até hoje, sua tela São Roque, em homenagem ao padroeiro da ilha.